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Já alguém imaginou um jogo Portugal - Brasil no estádio do Olhanense? Não, é pequeno... Já alguém imaginou o Rock in Rio em Tavira? Não, a cidade não atrai gente suficiente, nem o pessoal do norte e de Lisboa iam lá... Já alguém imaginou que a Expo 98 tivesse sido em Faro, e a final do EURO 2004 em Guimarães? Não, tinha de ser na capital do país, e num local que reunisse todas as condições para tal...

Pois, até aqui já nos entendemos... Então porque raio tinham de tirar o Rally de Portugal do seu local, onde é mais visto, mais desejado, e onde reúne todas as condições para tal?

Calma, já vamos à resposta... Nesta altura já estão os iluminados a dizer: - Ahh e tal, porque agora o caderno de encargos da FIA é mais exigente, e o norte/centro não reúnem as condições.

Muito bem, vamos por partes. Um local central onde tenha aeroporto e porto de mar a menos de 30km, estádio para a SS, parque fechado, pavilhão para as verificações e bons acessos, hospitais, e capacidade hoteleira. Porto ou Braga ou Aveiro têm. Os troços têm de ficar nas redondezas desse local, e o total de especiais e ligações tem um limite máximo. Já fiz as contas com troços de Fafe-lameira, luilhas, Montim, cabreira, ruivães, Amarante, ponte de lima, baltar, lousada, entre outros, mais a SS, shake down e Power stage, e o total fica abaixo do limite da FIA. Sendo mais ambicioso e considerando o Porto como local central, e incluindo um dia do rally em Arganil, mais os troços que falei anteriormente, o limite não é ultrapassado por muitos Km's, e sabemos que hoje a FIA já está mais permissiva e aberta a rally's tradicionais.

Em termos logísticos e físicos se alguém vir algum senão no que indiquei, avise por favor. Em termos de adequabilidade dos locais, nem comento, durante anos foram os melhores locais do mundo.
Agora vamos á parte da divulgação, projecção e impacto... Comparar a paixão das gentes do Norte com os do Sul torna-se até desprestigiante face a uma comparação tão disparatada. Devido ao maior envolvimento do povo do Norte o número de espectadores é incomensuravelmente maior, logo o impacto financeiro do evento é directamente proporcional ao público que acompanha a prova. As transmissões televisivas são mais apelativas por diversos factores: Mais público, mais entusiasmo, beleza natural das paisagens do norte, face ao deserto do sul...

Outro factor importantíssimo, as marcas presentes no WRC não se envolvem na competição por serem malucos e gostar de gastar €€, envolvem-se porque para além de desenvolverem as suas tecnologias e poderem testá-las face aos seus concorrentes de mercado, acreditam que os seus produtos são vendáveis aos olhos do público que assiste aos rally's, logo se há mais público a visibilidade é maior.

Outra conclusão que se pode tirar daqui é a seguinte: Quem mais facilmente comprará um Citroën DS3, Ford Fiesta, Renault Clio, modelo xpto? Quem mais facilmente comprará umas luvas, fato ou capacete sparco, alpinestar, OMP, para andar de Kart, Mota, Jipe, etc? Quem é que mais facilmente gasta uma pipa de €€ a meter um combustível ou óleo ou luzes ou jantes de marca e modelo tal? ... Evidentemente que é a rapaziada do norte, que é maluca por tudo o que é motorizado, ao contrário de alguns que mais se preocupam com luvas de golfe, ou hipismo... por sinal, desportos que são taxados com o mínimo de IVA, ao contrário do mundo automóvel que paga imposto sobre imposto.

Já vimos por A + B que o rally, o povo, o País, a FIA, e até o ACP, saíam a ganhar com esta solução, mas outras forças e poderes falam mais alto, e teimam em colocar o rally onde devia ser a demonstração, e a demonstração onde devia ser o rally.

Se algum senhor do governo ou do turismo de Portugal visse isto diria logo que sou louco, e que a vertente turismo também é muito importante, e que só assim metem lá os seus milhões, que por sinal, e ao ritmo do resto dos financiamentos nacionais chegam tarde, mal, e às vezes, nunca... Mas convém lembrar aos senhores iluminados que “turismo” mesmo que traduzido para Inglês não significa “Allgarve”, nem muito menos Algarve. As serras de Fafe, o Gerês, o Douro, a ria de Aveiro, o centro histórico de Guimarães e Braga, entre outros, também precisam de ser divulgados e potenciados. Portugal é de Bragança a Vila Real de Santo António, e não de Santarém a Faro.

Se o Fado é de Coimbra, os pastéis de Belém, as tripas e o vinho do Porto, os enchidos de Trás-os-Montes, O RALLY É DE FAFE… quanto muito, tem uma costelinha de Arganil e Sintra, mas nunca do Algarve.

Porque é que escrevi isto hoje, depois de estar a ser debatido há anos?

Porque passei no Confurco e quando vi aquelas almas já lá acampadas, achei que mereciam um post, ainda que feito por um leigo sonhador, mas que ama os rally’s. E como filho de boa gente não gosto que me tirem aquilo que amo.

Por outro lado, como sei que vai ser a loucura no Sábado, se escrevesse isto no fim, iam dizer que era ainda a febre e o sangue quente de uma noite mal dormida e de muito pó comido…

Que este post sirva para reavivar a nossa paixão, e para que no Sábado todos possamos mostrar aos “senhores do mundo” que o rally é nosso por direito, e que mesmo sendo malucos, doentes, viciados por ouvir o cantar dos motores a rugir por entre as serras de Fafe, sabemos sê-lo de forma educada, ordeira e exemplar…

Viva o WRC… em Fafe

Texto de Emanuel Moreira "