Palavras do piloto Português em jeito de balanço: (in autosport)
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Não sabemos muito bem quais foram os programas de trabalho das outras equipas, mas tendo em conta que fizemos tempos parecidos, nós e a McLaren, presumo que tenham testado em condições semelhantes a nós. Por exemplo, o mapa de motor estava de longe do máximo em termos de potencialidades, já que isto era só um teste em que o objectivo principal era testar a aerodinâmica e alguns componentes mecânicos.
Quando testei com a Force India o objectivo foi alcançar tempos, e tudo foi feito nesse sentido, mas neste caso não, já que procurei cumprir o programa delineado pela equipa. Recordo que faltam ainda duas corridas para o final do campeonato, e a Red Bull está a lutar pelos títulos, pelo que, nesse aspecto, nada pode falhar. Houve oportunidade para realizarmos um tempo ‘canhão', mas por azar um pequeno problema electrónico impediu-nos de ir buscar aquele segundo que tinha feito uma boa diferença. De qualquer forma, a equipa tem a telemetria e ficaram contentes com o trabalho. Fiz o meu melhor registo dos dois dias logo ao cabo de 15 voltas e isso prova que me adaptei depressa. Até em termos físicos, foi muito melhor do que estava à espera.
Fiquei a saber também que o Formula Renault 3.5 é um excelente treino para o Red Bull RB8, pois o WSR (World Series by Renault) deste ano é bem melhor que o de 2011 e existem curvas que, por exemplo, o WSR faz em 4,5G, o que não fica longe do F1, que faz 5,0G em zonas iguais. Claro que, em mudanças de direcção, travagem e aceleração não tem comparação, mas o melhor treino foi mesmo o WSR, ajudou muito.
A Red Bull é mesmo uma equipa diferente no seio da Fórmula 1, pois existe um ambiente muito bom, descontraído, uma mentalidade jovem, nota-se um espírito diferente do que existe noutras equipas. Logo na quinta-feira estive com o Mark Webber e o Sebastian Vettel. O Mark já conhecia, pois é manager do meu adversário na GP3 Series, o Mitch Evans. Por vezes falava comigo na brincadeira a dizer-me para andar mais devagar e deixar o piloto dele ganhar.
Já o Vettel, inicialmente pareceu-me algo antipático, pois pouco falou, só que, depois de uma reunião onde estive presente, percebi que não me reconheceu logo. Depois disso veio ter comigo, pediu desculpa e disse que só me conhecia pelo capacete. Deu-me os parabéns pelo meu grande final de época, e revelou que o Dr. Helmut Marko está muito contente comigo, colocando-se à disposição para qualquer coisa de que precisasse. Não tinha essa ideia dele e gostei da atitude.
É muito importante estar por dentro naquele ambiente, pois testemunhamos as mais diversas situações, ficamos a perceber no global como funcionam as coisas dentro da equipa em termos de comunicação, como se comunica e, quando me sentei no carro, já sabia bem o que tinha e quando dizer. No final de um dos treinos, falei com o Vettel, e sem dizer se achava se era melhor ou pior, dizia o que via dele e dos outros pilotos para que soubesse o que estava a fazer comparativamente aos adversários, as diferentes linhas de abordagem, etc.
Depois disso, fomos para o briefing, e aí passou-se uma história muito curiosa... Por acaso acabei por me sentar entre o Schumacher e o Vettel. Enquanto ouvíamos, comecei a sentir o Schumacher a bater-me numa perna, na brincadeira. Fiquei aflito, pois era o Schumacher ali ao meu lado, mas depois ele olhou, viu que era eu e riu-se, desculpando-se a dizer que pensava que era o Vettel. Foi engraçado!
O mundo da F1 é incrível! Não tem comparação possível com outra qualquer disciplina do desporto automóvel. Alguns tentam imitar mas nada tem a ver. Gasta-se muito dinheiro, e ainda mais num local como Abu Dhabi, mas é fantástico viver isto por dentro... Não sei ainda muito bem como vai ser em 2013, pois não está garantido que faça mais um ano da World Series, embora essa seja uma situação provável. Era o que gostava, pois o carro é óptimo e o campeonato muito giro.
Se a isso fosse possível juntar as sextas feitas de Fórmula 1 ainda melhor, pois penso que é importante ter um pezinho na F1. Se posso ser competitivo na Fórmula 1? Só depende de mim e as coisas são simples: se repetir a WSR só tenho de acelerar e, tendo um ano bom, vou para a F1; caso contrário, não vou. Depende como correr o ano na WSR, onde, caso dispute o campeonato, tenho de apontar para o título. Mas não sei ainda, veremos..."